Fim de Tempo. Ela resolveu encarar o reflexo no espelho, e quando viu quase não reconheceu a si mesma. Onde estava a criança que um dia fora? O que aconteceu com aquela garotinha que tinha o sorriso esquisito, o cabelo encaracoladinho e os olhos brilhando? Ela estava diferente, quase irreconhecível, seu sorriso era duro, sua postura rígida, viu uma mulher bem ali. Cresceu, se modificou, se reinventou, se recriou, se tornou uma completa estranha, era racional demais. Procurou a si mesma, não conseguiu se encontrar, estava tudo diferente demais, real demais. Onde estavam os sonhos? O que aconteceu com os sorrisos? De onde vieram essas lágrimas? O que aconteceu com ela? Quando mudou tão completamente? Ela não sabia responder, ela não se conhecia. Então encontrou os olhos, os encarou, olhou-os bem no fundo. E ali encontrou a criança, os sonhos, sorrisos. Descobriu a garotinha que tinha medo de raios e trovões, que só se sentia segura ao lado do pai e da mãe, que não pensava em encarar o mundo, que não precisava ser corajosa. Se reencontrou, se reconheceu e se perdeu mais uma vez. Percebeu que a garotinha escondida estava sumindo aos poucos e se ocultando atrás de um corpo de mulher. Sentiu medo de perder a menininha, mas não havia como deixar de ser forte, encarar o mundo, pensar no futuro, ser gente grande. A garotinha estava se perdendo ao longo do tempo. Era chegada a hora de crescer.O tempo vai passando e vamos perdendo quem um dia fomos, vamos deixando de lado aquilo que nos fazia felizes e aos poucos perdemos a criança que há em nós. Não permita isso.